Aos 15 de fevereiro de 1899, nasce em São Paulo, na Vila Mariana, Jenny Klabin, a segunda dos quatro filhos de Bertha e Maurício Klabin, prósperos emigrantes judeus de origem russa que haviam chegado ao Brasil no fim do século XIX. Em 1904, a família vai para Berlim e depois para Genebra, onde permanece até 1909. Nesses anos, Jenny inicia seus estudos em escolas alemãs e suíças. De volta ao Brasil, Jenny completa sua formação com professores particulares, tornando-se fluente em francês, inglês e alemão.

No início da década de 1920, a família Klabin retorna a Berlim para tratamento de saúde do patriarca Maurício. Jenny realimenta, segundo testemunho dela mesma, seu grande amor à distância por Lasar Segall, que tinha conhecido no Brasil em 1913. Naquele momento o artista estava casado com sua primeira esposa, a alemã Margarete Quack.

Em 1923, Segall chega definitivamente ao Brasil, país ao qual Margarete não se adapta. O casal se separa e Margarete retorna à Alemanha. Segall, no entanto, escolhe o Brasil como sua nova pátria, naturalizando-se em 1925. No mesmo ano Jenny casa-se com Lasar com quem teria dois filhos, Maurício, nascido em 1926, e Oscar, nascido em 1930.

No início da década de 1930, Jenny participa ativamente com Segall das atividades da Sociedade Pró Arte Moderna (SPAM), da qual são sócios fundadores. É especialmente nos famosos bailes de carnaval da SPAM que o casal desempenha um papel de destaque, iniciando o convívio social com a elite intelectual e artística de São Paulo, recebida regularmente na residência da Rua Afonso Celso.

Em meados da década de 1930, começa sua longa atividade literária como tradutora de clássicos do teatro alemão e francês, demonstrando grande talento e versatilidade poética em seu ofício. Suas traduções recebem numerosas edições, elogiadas por intelectuais brasileiros e europeus.

Na década de 1940, Jenny inaugura um novo filão de sua criatividade. Projeta, na qualidade de arquiteta amadora, diversos imóveis em terrenos de sua propriedade, muitos dos quais sobrevivem até hoje.

Nos anos da Segunda Guerra Mundial participou dos movimentos antinazistas em São Paulo, compartilhando da angústia gerada pela tragédia da guerra.

A morte de Segall, em 2 de agosto de 1957, atinge brutalmente Jenny. Extremamente apegado às suas criações, Segall acumulara ao longo da vida um conjunto significativo dos próprios trabalhos, num total de cerca de 8.000 obras entre pinturas sobre tela e papel, desenhos, gravuras e esculturas, além de um vultoso volume de documentos e registros fotográficos.

Jenny assume então a missão de consolidar, organizar, conservar, divulgar, expor e estudar a obra do marido desaparecido, abrindo mão da própria atividade literária.

Com o objetivo de reinserir a obra de Segall no cenário artístico internacional, do qual sua mudança para o Brasil lhe havia em boa parte afastado, decide por uma estratégia de preservação cujo pensamento central é a manutenção do acervo de obras unido e a criação, a médio prazo, de um museu para abrigá-lo.

Inicia suas atividades por meio da organização física do ateliê, classificando e armazenando todas as obras que ali se encontravam. Em termos de documentação, autentica todas as obras não assinadas, registrando suas datas e locais de realização. Atualiza os registros de obras em outras coleções, e inicia a sistematização dos documentos e correspondências.

A consolidação do acervo é buscada por meio da aquisição de obras executadas por Segall durante seu período alemão. A mais notável é a da pintura Die ewige Wanderer [Eternos caminhantes], de 1919. A tela encontrava-se desaparecida há mais de 20 anos, e fora leiloada em Paris em 1959, logo após ser reencontrada.

A divulgação da obra de Segall tem início imediato por uma exposição na 4ª Bienal de São Paulo, em 1957, seguida por uma exposição itinerante pela Europa e Israel. Essa mostra retrospectiva, cujos preparativos já haviam sido iniciados pelo próprio Lasar Segall nos seus últimos anos de vida, começa com apresentações na 29ª Bienal de Veneza, em 1958, e no Museu Nacional de Arte Moderna de Paris, em 1959. Durante três anos, sucederam-se apresentações em importantes instituições museológicas de Barcelona, Madri, Bruxelas, Amsterdã, Nuremberg, Oslo, Dusseldorf, Copenhage, Berlim, Varsóvia, Tel Aviv, Jerusalém, Haifa e Ein Harod.

Realizada com o apoio do Ministério das Relações Exteriores, essa longa sequência de exposições envolveu complexas negociações, além de gerenciamento de um significativo número de obras, transportes e preparação de material de divulgação, bem como supervisão da elaboração de textos críticos por renomados historiadores da arte como o britânico Herbert Read e o francês Jean Cassou. Em todas essas atividades, Jenny Klabin Segall contou com o auxílio de Luiz Hossaka, dos filhos e de sua nora Raquel Arnaud.

Ainda no campo da divulgação, Jenny encomenda à Editora Il Milione de Milão uma versão em inglês e francês do livro de Pietro Maria Bardi Lasar Segall, que havia sido publicada em português em 1952.

A partir de 1963, consolidadas as atividades de documentação e organização do acervo, Jenny inicia os preparativos para a instalação do futuro Museu Lasar Segall. Em uma das três casas contíguas que formavam sua residência, começa as reformas para possibilitar pequenas mostras públicas da obra de Segall, bem como a construção de espaço destinado a armazenar o acervo, provido de todas as condições técnicas de uma reserva de museu, inclusive climatização. As instalações iniciais, ainda inacabadas, são abertas ao público em agosto de 1963, com uma pequena exposição, por ocasião da VII Bienal de São Paulo. Uma segunda exposição é realizada em 1965, com cerca de 100 obras.

Em 1966, tendo já realizado boa parte do que se propusera em relação ao nome e à obra de Lasar Segall, Jenny retoma lentamente suas atividades literárias. Não logra desenvolver muitos projetos, pois a 2 de agosto de 1967, precisamente no décimo aniversário de morte do marido, sofre o ataque cardíaco que a mataria três dias depois, na residência na qual viveu durante 35 anos.

Após sua morte seus filhos Maurício e Oscar assumiram a tarefa proposta pela mãe e, em 21 de setembro de 1967, era inaugurado o Museu Lasar Segall.